Olá pessoal!
Em uma aula de Mídia e Cultura no curso de Jornalismo da Unoesc, o posicionamento dos meios de comunicação sobre questões que envolvem o desenvolvimento social, político e econômico de um país vieram à pauta. E em tempos de responsabilidade ambiental, os futuros jornalistas não podem se omitir do processo, repercutindo apenas aquilo que convém aos interesses de quem já detém o poder econômico. Minha intenção aqui é oferecer subsídios para uma discussão racional e consciente sobre o tema.
Comecemos com o pensamento filosófico imputado aos portugueses na época do descobrimento do Brasil e hoje tão criticado pelos brasileiros – o extrativismo. Portugal era um país pujante e desenvolvido na época em que aportou no país, não por suas indústrias de manufatura do material extraído das colônias, mas por sua grande habilidade em construir navios. Na verdade, Portugal chegou a possuir a maior frota marítima do mundo entre os séculos XVI e XVII. Assim, seu espírito estava voltado ao transporte, à transposição dos mares, ao comércios de especiarias retiradas das colônias. Já Holanda e Inglaterra se preocuparam em desenvolver indústrias que pudessem manufaturar tais especiarias e produtos naturais a fim de atender o mercado interno. A visão portuguesa estava voltada para o mercado internacional e seus esforços focados no transporte, não na extração ou na transformação dos produtos vendidos.
Se Portugal fosse uma empresa, ela seria vista como próspera e transnacional. E isso não causaria nenhum espanto, remorso ou diminuiria sua importância num contexto mais amplo. A mesma idéia, de extração de recursos naturais não renováveis, é vivida pelos países que enriqueceram às custas do petróleo: Arábia Saudita, Kwait, Iraque, Irã e até os Estados Unidos. A lógica é simples: retirar da natureza enquanto ela oferecer o líquido precioso e, paralelo a isso, procurar novas reservas para continuar a exploração sem pensar em devolver nada à natureza.
A pergunta que ambientalistas fazem ao mundo e deveria ser ecoada pelos jornalistas é simples: qual o custo de tudo isso? Como continuar “sugando” elementos da natureza, sem reposição, e achar que isso vai existir para sempre? O que acontecerá quando o petróleo do mundo acabar? É preciso pensar em novos tipos de energia, mais limpos e renováveis.
A utilização de outros tipos de energia que não sejam a base de queima de combustível já estão em estudo e algumas até sendo usadas. São os casos da energia aeólica (força dos ventos), utilizando o movimento das ondas do mar e até o biocombustível. Esse último caso deve ter especial atenção pois gera empregos, pode ser explorado com o uso racional do solo e das águas, é renovável e poderia colocar o Brasil (por sua extensão continental e história que favorece a agricultura) num patamar de país de primeiro mundo, como produtor fundamental de grãos geradores de energia.
As mudanças não seriam tão drásticas, já que os mecanismos que funcionam a base de queima de combustíveis continuariam funcionando com pequenas modificações, apenas com um líquido que pode ser extraído de plantas ao invés de simplesmente extraído (sem reposição) da Terra. Porém, uma discussão levantando dúvida sobre a valorização do biocombustível em detrimento da produção de alimentos poderia agravar a situação de fome no mundo. Particularmente, acredito que a fome no mundo possa ser solucionada com vontade política. Basta, por exemplo, taxar a produção de biocombustível ou criar incentivos fiscais aos produtores de alimentos. Além disso, devemos considerar o “terroir” das regiões. Ninguém planta soja na encosta de um morro, por exemplo, mas uvas se dão bem nesse tipo de relevo acidentado.
Agora, imaginemos o porquê dos biocombustíveis saírem da pauta tão rapidamente quanto entraram nos últimos dois anos. Colocar o Brasil num contexto de autosuficiência na produção de combustíveis, transformando-o quem sabe num produtor internacional de biocombustível para abastecer mercados como o asiático e o europeu, seria assumir a possibilidade de uma fragilização na imagem de líder econômico mundial que os Estados Unidos ostenta para si e para o restante do planeta.
Reflexo imediato dessa pressão internacional é o anúncio da descoberta DA POSSIBILIDADE DE EXISTÊNCIA de petróleo em camadas profundíssimas do oceano Atlântico, em costas brasileiras – o chamado Pré-Sal. Pouco ou nada é divulgado sobre essa possibilidade não ser confirmada. Pouco ou nada é divulgado sobre não existir, em lugar nenhum do planeta, tecnologia capaz de acessar esse petróleo. Pouco ou nada é divulgado sobre o porquê de gastarmos bilhões de reais numa tecnologia avançadíssima para extrairmos da natureza um tipo de combustível que tem seus dias contados (mais cedo ou mais tarde vai acabar), tendo tanta terra e conhecimento para produzir biocombustível. Pouco ou nada é divulgado sobre a relação do Brasil com o Irã (país que pode desenvolver tal tecnologia para extração do petróleo no Pré-Sal) e do possível interesse daquele país nos resíduos nucleares (lixo tóxico) de Angra I e II.
Em resumo, ser jornalista é mais fazer mais do que simplesmente reproduzir discursos de outros, ainda mais quando esses discursos omitem, distorcem ou agridem a liberdade de informação, a promoção da autonomia e a cidadania das pessoas. Ser jornalista é reportar as informações, cobrir o maior espectro possível de dados e versões e promover a ligação e a interpretação de tais dados. Menos do que isso é assumir uma postura de “porta-microfones”.
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